terça-feira, 24 de setembro de 2013

Ensaio sobre a fragilidade - parte 1

O que há por detrás daquele sorriso?

Há tempos quero escrever algo sobre o fato de as sensações sensoriais e emocionais serem diferentes nas pessoas as vezes. Em tese, são provadas em pesquisas que deveriam ser iguais ao menos em alguns pontos. Em prática, creio que não.

Muitas vezes, deitada em minha cama, ou mesmo em alguns delírios em momentos indevidos, penso em algo que me tira sono, fome, sede e sossego. O que há por detrás daquele sorriso?

O sorriso é em si uma demonstração de fragilidade? E quais os limites desta sensação? Precisa ser boa? Pode ser ruim? Pode ser um trauma? Alívio, loucura, paixão, ódio, desgosto, insensibilidade, asco? Quantos sorrisos damos e recebemos por aí...

Na famosa obra Monalisa, Da Vinci representou o que não via (Há sim por aí milhares de teorias, mas a verdade é que Da Vinci também tinha encantamento por sorrisos que não sabia o que expressavam - e esta é a minha verdade sobre tal. Além das correntes que pregam que ali não havia um sorriso). O quanto vocês entendem de sorriso afinal? O quanto eles entendiam?

Nunca fui amante de história, portanto não sou detentora de grandes conhecimentos dos movimentos artísticos que rodearam o mundo. É difícil admitir quantas coisas já passaram ao alcance de meus olhos e eu não tive a bendita fragilidade para prestar atenção. Também não fiz um curso de história da arte, não pesquisei a fundo e o que menciono é o básico. Portanto são conhecimentos leigos e possivelmente errôneos em vários âmbitos. Como diria um grande amigo: o cerne da questão apenas. E eis tal posicionamento: o movimento renascentista italiano a meu ver foi o que trouxe as incógnitas que são os sorrisos.

Vistos em desenhos, pinturas, esculturas, e então arrancados em músicas e outras expressões artísticas. Franz Halls com o Cavaleiro Sorridente me faz pensar em mil questões ao mesmo tempo. Por que ele quis representar o sorriso? O que ele via no sorriso que até então outros tão renomados artistas viam nas lágrimas e nos rostos sem expressão?

Parmigianino, seguindo os passos de Da Vinci mostra em uma obra chamada La schiava turca, um sorriso subliminar, pra mim como o de Monalisa, mas numa beleza diferente, mais ousada e com 'n' possibilidades discutidas pelos antropólogos, artistas e historiadores, e que provavelmente tem embasamento histórico.

E para que isso tudo?

O que entorpece loucamente é justamente ver não na história passada, mas agora no dia a dia, o que há por detrás de cada sorriso. Existem sorrisos tão tristes, tão deprimidos. Existem rostos sérios sorridentes e nossa fragilidade muitas vezes não se dá conta. E aí me vem claramente o pensamento - "Como isso é ridículo".

Não deveríamos então fazer um ensaio sobre a fragilidade? Se não um ensaio, meramente uma reflexão...

Sei que jamais conheceremos a fundo cada pessoa e cada expressão facial dela. Mas ao menos a minha fragilidade me exige que eu veja por detrás dos sorrisos, as pessoas que me cercam. Isso porquê eu sei o quanto o meu próprio sorriso é dado às custas de muitos espinhos engulidos. Quando eu mexo nas minhas feridas sei o quanto já menti a cada sorriso mais lindo que foi fotografado ou marcado na mente de algumas pessoas. E poucas são as que sabem que só sorrio do verdade com os olhos - e estes escondidos pelas lentes dos óculos sempre.

- O que te toca Natália? Se você esmiuçar até que não te machuque, a saída não é menos dolorosa?

Esta foi a pergunta que ele me fez. E desde então a fragilidade se aguçou mais. Não, eu não esmiucei em mim, mas passei a ver nos outros...

Tenho sido tocada pelos mecanismos que levam a pessoa a sorrir. Não os mecanismos motores, refletores, comandados pelos impulsos nervosos. Os que a vida desencadeou. Os mecanismos traumáticos, os desprendidos, os meramente babacas... O sorriso em si é dado por toda uma expressão corporal e não só pelo arquear dos lábios.

Monalisa, pintada numa posição fechada, para mim não estava sorrindo. E quantas Monalisas você vê por aí? Quantas pessoas ao seu redor que sorriem com os braços cruzados numa postura corporal tão fechada quanto uma cara ranzinza? Se é pra rir, que seja livre e não apenas para agradar ao mundo.

Como é triste um sorriso triste! Quantos mistérios ele esconde. Quantas seis situações? Quantos rostos conhecidos ou desconhecidos? Indagações demais para um ato tão simples.

Detrás do sorriso existem histórias... E quantas histórias...

E para se conhecer outrem, uma parte da história delas deve estar ao seu alcance. Senão não se conhece, apenas se vê e troca algumas palavras. Mas conhecer não é um ato fácil. Não tão fácil como conviver...

Se sua fragilidade te permite, ouse, pergunte, enxergue e se permita. Contigo? Não. Com os outros. Há quem fará por você.

As vezes ali há alguma mão precisando ser acariciada ou um colo sendo pedido com socorro detrás de um sorriso de 'oi, tudo bem?'.

Observe, afinal não custa nada ser uma pessoa melhor. E se for o caso, mexa nas feridas, tire cada fiapo, cada lágrima, jogue álcool por cima se for necessário. Pode parecer a mais errada das atitudes, mas acredite, não é.

Há dificuldade em se mexer nas feridas. Afinal, elas doem, ardem, massacram alma e coração. Mas dali, quem sabe pode surgir um sorriso de boa vontade, sem ato reflexo? Um sorriso não consciente? Coisas que só a fragilidade pode falar por nós.

Tentaram mexer em minhas feridas algumas vezes, e não conseguiram. Mas me colocaram a par da análise por detrás do sorriso. Me deram a arma para abrir horizontes para novas pessoas. E se Monalisa estivesse aqui, acho que agora bateríamos um longo papo.

O cavaleiro sorridente, já tem um tipo mais descolado. La schiava turca, uma posição sensual. O filme A vida é bela, me mostrou alguns sorrisos que poderiam existir nas guerrilhas. As grandes farras de Napoleão também. A arte de Aleijadinho em seus anjinhos barrocos me dá sensação de mais esperança nos sorrisos.

O que há detrás do sorriso daquele jardim? Talvez, nada...

Talvez seis espinhos cravados, talvez seis rosas mortas, talvez seis cadáveres enterrados, talvez seis monstros escondidos...

O que há por detrás do seu sorriso?

Afinal, quantos sorrisos damos e recebemos por aí...


2 comentários:

  1. Eu sou risonho mas sou sou muito triste, pois não tenho a meu lado a razão das minhas alegrias rs

    MUITO BOM O TEXTO VIU!!! rs

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  2. Gostei muito da forma delicada que descreve o sorriso, eu tenho por mim que o sorriso é um movimento involuntário dos lábios quando a alma esta solta, livre . não forçamos o que vem naturalmente e mesmo que pareça triste é um pedido de socorro, necessidade de aconchego ou de simplesmente amar.

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