sábado, 4 de maio de 2013

Uma nova e última leitura sobre o amor


              Ainda me lembro da primeira vez que passei os olhos sobre as escritas de Álvares de Azevedo. A primeira sensação? Paixonite aguda. E durante alguns anos, ele continuou sendo o top autor de cabeceira. Em todas as suas obras – mas de fato a que mais me encanta é Noites na taverna, ele traduziu em crônicas, prosas, poemas,  uma das minhas leituras sobre o amor. O amor é pessimista, melancólico, saudosista e até  libertino. Aos bons entendedores é óbvio o sentido detrás das palavras tristes.  O amor aguça a sensibilidade, e os que tem o tino para este comércio, farejam de longe qual for a emoção. 

             (E ao ler, os que se consideram amantes em potencial, pensarão: Libertino? Comércio? Ela nada sabe sobre o amor!)

                Eu imagino o olhar triste deste homem ao escrever cada uma de suas palavras e quisera ter nascido a tempo de conhecê-lo antes de seu último suspiro.  Ainda me soa estranho homens que falam de amor tão justamente e com conhecimento de causa. Verdade seja dita, ainda que os maiores nomes sobre o assunto sejam masculinos, em nosso dia a dia poucos são os que dissertam sobre o amor de maneira tão sincera.  (E eu tive o prazer de conhecer um!)

                Minha primeira leitura sobre o amor foi assim. Baseada em cores cruas, sem textura, frias, frígidas, maçantes, ingratas, inconstantes, egoístas. E há quem pense que isso não é amor! E há o meu pensamento de que o amor é assim, lhe deixa a flor da pele e suscetível ao menor resquício de impaciência que possa existir no olhar dele. E poucas são as pessoas que interpretaram Álvares, Olavo e Augusto desta forma. Eis a forma mais exata de se definir o amor. Exata e para poucos neste mundo.

                É certo o tanto adoro falar sobre flores, sorriso e gosto de morango. Tão certo quanto são lindos os dias de sol ao lado dele. Mas a continuidade é marcada pelas tempestades e pelo gosto de creme de barbear que aparecem ao menos uma vez por semana.  E isso é o amor.

                A nova e última não passa de uma releitura. Agora não só na teoria, mas vivenciada a cada encher e esvaziar de ar dos pulmões. Desde a primeira impressão, ao primeiro erro, e o último sorriso. E todas as sensações que mantém vivo o que muitas pessoas deixam morrer todo dia. Se depois de um terremoto, se reconstrói cada minúscula casa, existem dois sentidos: você não quer se mudar e vale a pena se manter naquele local. O sentimento mais lindo do mundo é coisa de perdedores, pois só os perdedores continuam lutando em prol do que tanto querem. Só os perdedores têm a sensibilidade para rever os erros e continuar lutando mesmo quando todo mundo os chama de fracassados. O que é o fracasso para quem ama? Um impulso de uma cama elástica. Uma psicologia reversa. Um tanque cheio de gasolina. Uma xícara de café nos momentos de sono. Uma noite bem dormida para quem precisa trabalhar no outro dia. O nascer do sol para quem precisa de inspiração.

                E se me perguntam o que é o amor, creio que eu defina de uma maneira diferente como meus grandes orientadores. Amar é optar pelo cultivo de seus próprios espinhos. É não se importar quando se é machucado e em alguns pontos até gostar da ferida. É entupir suas narinas para que ele possa respirar. É sentir o gosto de creme de barbear, escovar os dentes, sentir, escovar de novo e estar sempre comprando novas escovas. Porque vale a pena sentir o gosto ruim vez ou outra. É ter dois reais na carteira e comprar dois pacotes de miojo ao invés de uma coxinha. Ceder o melhor travesseiro, ter sempre o colo afofado, engolir o ódio e forçar que se está calmo para que ele não quebre o mundo na porrada.

                É o primeiro e último pensamento do dia, sendo também o motivo tanto de sonhos quanto de pesadelos.  O motivo dos sorrisos mais bobos e das lágrimas mais sofridas. Amar é não se importar em ferir seu orgulho, em deixar de ter espaço, em ser jogado pra fora da cama, em ser taxado de idiota, e tantos outros rótulos que os reprimidos inventam.

                Que os utópicos me perdoem ao romper o conceito de amor que querem defender. Que os reprimidos aceitem que não amam por não saberem amar. Que os invejosos amem alguém e passem a ver o quanto isso é bom e real.

                Sim. A minha leitura do amor não é perfeita e bela, é simplesmente honesta como um jornal de 25 centavos cheio de tragédia. Não tem muitas cores e nem as famosas borboletas no estômago. A minha visão mal do século tem uma certa tristeza enrustida. Assim é o amor, te massacrando o tempo todo para que você se torne uma pessoa melhor simplesmente para ter mais sorrisos e olhares ternos, para ver no outro o bem estar que quer para si mesmo. Ficar instável ou numa linha de trem esperando apenas ser atropelado para se recuperar e lá ficar novamente. Mesmo que isto custe a sua vida. Afinal, nada mais é só seu.

                 Eu vou construir a minha vida em cima de uma placa tectônica!  Isto sim me representa o amor.

                * Meu espinho está  personificado e datado com 26 invernos.  Tem em torno de um metro e meio de altura, cabelo escorrido, olhos pequenos, um mau humor gigantesco e o sorriso mais sedutor do mundo.

2 comentários:

  1. Gostei, apesar de talvez eu não ter ainda propriamente uma concepção do que seja o meu amor, acho que aprendi com a vida entres os humanos a amar mais a meus cães, a mim mesmo e a meus sonhos, ideais, e valores milenares do que a pessoas e circunstâncias, embora sim, eu ame de maneira confusa uma garota :)

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  2. Amiga,


    Sensacional! Me identifico em algumas passagens do texto, parece que alguns momentos você escreveu para mim.

    Se me permite vou falar algo que tendem a acrescentar seu belo texto: A minha primeira visão sobre o Amor, vem dos contos de fadas, onde os príncipes são lindos, cavalheiros e cortês e que o final era sempre 'e foram felizes para sempre'.
    Era uma visão que vinha da inocência da infância, por que quando a gente cresce, você se apaixona idealiza seu príncipe (mais moderno), porém com seus encantos.
    Quando se ama, os defeitos do outro simplesmente desaparecem, né?
    Mas depois que a Paixonite Aguda passa você percebe que seu Príncipe ao beija-lo vira um Sapo, e que você pegou apenas 'Sapinhos'. ( No meu caso, literalmente!)

    Conheço mais pessoas que se fodem em relacionamentos do que aquelas que são bem sucedidas na área.
    Falo com certa autoridade no assunto, de quem já teve o ombro bastante molhado e o ouvido bastante paciente e alerta, e lenços na mão.
    Tendemos a idealizar nossos relacionamentos em coisas que eles jamais foram. Eclipsamos as lembranças ruins, e enfeitamos as lembranças boas de sentimentos, palavras que não tinham esse ou aquele sentido. Reinterpretamos os diálogos e os olhares.
    Vemos com olhos mais românticos coisas que passaram batidas na hora.

    Mas enfim, que atire a primeira pedra quem nunca se decepcionou com o ser amado! Mas por mais difícil que seja é uma dor que sim, uma hora passa, e não tem nada melhor do que esta sensação.

    Adorei Nath! Beijo e amo você!



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