terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Irremediável

Minha querida vovó passou pras nossas gerações, assim como tantos antigos sábios das filosofias populares passaram aos seus: “O que não tem remédio, remediado está".

Ainda me lembro daquele rostinho envelhecido pelos 80 e poucos verões, com um sorriso sapeca (acho que a coisa mais linda que puxei dela), vestido de tecido de algodão com flores pequenas estampadas, cinto marcando o corpo já curvado pelo tempo e um perfume de rosas que não era perfume e sim o cheiro dela junto a seu implícito amor pelas flores. Assentada em sua cadeirinha de balanço, citava coisas que pra mim antes não tinha nenhum significado. Sabe vovó, hoje acho que mudei muito de opinião quanto às suas citações. Com o tempo, elas passaram a fazer um enorme sentindo em minha vida. E se daí de cima souber disso, me perdoe por tantas vezes achar que os seus ditados eram ‘caduquices’.

Creio que na maioria das vezes, a intensidade é o maior mal que podemos ter. Pode ser acústica, física, radioativa, sísmica. Se placas tectônicas não tivessem tanta intensidade em seus movimentos, não teríamos os terremotos. Se minha energia não tivesse tanta intensidade em sua propagação eu não teria essa sinergia abalada. Onde encontrar a fórmula física de equilíbrio da intensidade? Acho que Einstein foi embora rápido demais, um tanto antes de poder me estender as mãos.

Eu não tenho controle de intensidade quando penso em certas coisas. De repente parece que elas surgem como um meteoro ou estrela cadente e meus olhos e meu corpo vão seguindo até que o estrago seja feito. Desculpem-me os que acreditam nas estrelas cadentes, mas em seu destino final elas nunca realizarão seus desejos e ainda causarão algum dano onde caírem. Assim como os meteoros. Os coitados são sempre vistos como os ruins da história. Bem, a maioria das histórias são sempre mal contadas.

E vou criando analogias que por fim, nem eu mesma entendo, começando de uma antiga citação, passando pelos significados de intensidade, de meteoros e estrelas pra cair no que considero algo muito clichê e que só Paulinho Moska, Tom Jobim, Chico Buarque, Arnaldo Antunes, Nando Reis, Otto e alguns outros de meus cantores/escritores preferidos tiveram o feeling para definir de maneira simples.

 Então, começo, o que já está pela metade explícito e que nunca vai ter um final, com um trecho de Mário Lago (Aquele velhinho simpático, dos olhos claros que comovia nas novelas e muita gente nunca leu nem metade das coisas maravilhosas que ele fez):

“Chorar o que já chorei, fracasso eu sei
Fracasso, por compreender que devo esquecer
Fracasso, porque já sei que não esquecerei
Fracasso, fracasso, fracasso, fracasso afinal
Por querer tanto bem e me fazer tanto mal”

Tenho as lembranças filmadas em minha cabeça, algumas apenas fotografadas. Outras, sinto só de fechar os olhos. Algumas me arrancam sorrisos de canto de boca quando menos espero, outras me arrancam lágrimas. Algumas me fazem ter vontade de viver, outras não. Há ainda aquelas que ainda não consigo definir nem mesmo encontrar, mas que estão expostas escancaradamente no fundo dos meus olhos e mudaram meu jeito desde que percebi que tudo era irremediável.

Nenhuma migalha de tempo foi jogada fora - disso me orgulho. Foram muitas coisas bem aproveitadas, muitos momentos que posso escrever um livro que não sei se seria dramático, filosófico ou cômico. Mas algo me diz que esses momentos ainda não terminaram. Pelo menos sinto que minha participação na história ainda não se findou. E tento encerrá-la a ferro e fogo. Bom, isso parece piorar. E acreditar em destino e acaso me soa como a coisa mais ridícula do universo.

Mas preciso ser forte. Preciso ter paciência e estudar o alvo. Não adianta flecha sem alvo!  E que então essa filosofia se implante em minha cabeça. Ainda não é tempo de ser flecha. Flechas podem acertar coisas erradas quando não são miradas direito. E nesse momento não quero ser um joguinho de dardos de crianças. A situação é séria. E não quero que um tapa na cara acabe novamente com todo o encanto que eu tenho. Receber esse tapa é simples, perdoar também, mas os danos agravados não são curados nem com um milhão de pontos de sangue.

Sinto que foi naquela manhã de sábado que tudo mudou. Bom, foi uma manhã inédita em minha vida. Quando acordei e observei,  observei de um jeito diferente, tudo o que acontecia como sempre, aconteceu diferente. A sensação foi indefinível. Sabe quando a gente tá naquela frescura  pra lavar alguma coisa com a mangueira num pavor enorme de sentir frio? Devagar vamos entrando na brincadeira e quando ficamos a par da situação já estamos completamente molhados. Eu me entreguei dessa forma. E senti o mesmo frio de estar molhada depois. Na verdade, as vezes acho que nem é frio o que sentimos, é uma necessidade de nos encolher protegendo-nos de uma sensação diferente. Senão peixes, não seriam peixes.

O único arrependimento foi não ter falado no fundo dos olhos quando eu pude. Quando perguntada, retruquei a pergunta com um ‘você sabe o que é?’ e fui respondida com o ‘imagino que sim’. Essa oportunidade sim foi perdida. Mas ela não mudaria nada. Disso tenho certeza. Mas prefiro realmente me arrepender do que faço. E hoje acho que já nem tenho aquela vontade de dizer de novo. Sabe quando passa? Então. Passou.

Vou levando as coisas como dá. Penso que uma caixa de leite azeda em uma semana, uma garrafa de coca-cola perde o gás três dias após ser aberta, o café esfria em menos de 12 horas após feito, o pão endurece em dias, o gelo se desfaz em minutos, garrafas de vidro duram pra sempre, diamantes também. Grafite enterrado há determinada profundidade e em um milhão de anos torna-se diamante. Quartzo antigamente não tinha o menor valor. Turmalinas eram achadas como as piritas em algumas regiões. As piritas eram valorizadas, as turmalinas não. Até que ouro mostrava à pirita que ela não tinha valor. E quem tinha era a turmalina que estava jogada em qualquer canto. São tantas relações... Tantas analogias mais podem ser feitas.

Só sei que os sábados hoje têm um valor diferente. Quando acordo e olho pro lado e não vejo e nem sinto o perfume. Nem as quartas a noite e nem as quintas pela manhã. Não tem mais papel de paçoca jogado no meu chão. Nem x-bacon no café da manhã, ou alguém me dizendo que o macarrão com peixe estava delicioso e me mandando lavar a pilha de louças que fica em cima da pia. Mas em prol daquele magnetismo que começa na garganta e acaba no peito, causando arrepios nos braços e na barriga, eu fiz tudo o que eu podia. E que tenho certeza que também arrancou grandes gargalhadas.

Uma música me lembra os momentos: “Gosto de ver você dormir, que nem criança com a boca aberta”... “Vem cá meu bem, que é bom lhe ver. O mundo anda tão complicado, e hoje eu quero fazer, tudo por você”.

Mas encerro o texto com algumas coisas.

Como diria Quintana: “Tão bom morrer de amor e continuar vivendo”. Então, deixa o pau quebrar.

E meu caro Carlos Drummond de Andrade, quero adicionar um trecho a um famoso poema seu, título de um de seus melhores livros:

E agora ******* ?

Por favor, não fale nada!

* Não tem remédio, remediado está

3 comentários:

  1. Está muitíssimo bom, você se supera a cada dia mais não apenas na Escrita como acima de tudo em teus sentimentos e pensamentos, assinado: o Marmota mais magrelo e ocludo da sua vida e que te ama de paixão hihi :D Beijo.

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Ahhh melhor eu assinar com um perfil mesmo rs vai que me clonam o comentário hihi bom não tenho medo de dizer que sou uma marmota, de resto, já se é sabido rs

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